sábado, 31 de maio de 2014

Permaneça em Deus


Um dia desses recordava um episódio pelo qual passei em minha adolescência. Um deserto espiritual. Mas o que vem a ser um deserto espiritual? Quando aconteceu também não sabia, descobri somente mais tarde.
Depois de alguns anos caminhando no Senhor, experimentando um fogo interior, sentindo na pele os efeitos da graça de Deus, senti o fogo tornar-se cinza, e os sentimento extenuarem-se, não sabia que a fé não é sentimento, mas adesão à pessoa de Cristo. 

Participava da Santa Missa sem vontade, na homilia eu dormia. No grupo de oração não era mais a mesma coisa, os arrepios, o choro, o fogo interior. As forças para caminhar no Senhor esvaiam-se gradativamente, a “graça” tornou-se “raça”, nada mais fazia sentido para mim, nem “a trilha sonora da minha vida” me emocionava, as dúvidas tomaram minha alma. Examinei, pois, se não era tibieza de minha parte, ou se cometi algum pecado grave que me distanciou da graça de Deus, confessei-me para garantir. Mas mesmo assim nada mudou, humanamente falando.

Contudo, não me dei por vencido, pensava constantemente “no primeiro amor”, a minha primeira experiência com o amor de Deus. Percebi, não muito claramente, que Jesus queria comunicar-me algo, em meio àquela aridez, então resisti e permaneci em Deus, pois quanto mais a madrugada avançava, mais próximo da luz da aurora me sentia.

Num contexto diferente, podemos interpretar a passagem: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus“, (Marcos 12, 17), de uma forma diferente,no meu caso subjetivamente. Assim sendo, em qualquer fase de nossa vida precisamos dar a Deus o que é de Deus.

“Permaneça em Deus, pois Ele sempre permanece em ti!”

Naquela situação, o que eu precisava entregar a Deus, era o tempo da missa dominical, o tempo do grupo de oração semanal, o tempo de minha oração pessoal. Ou seja o tempo reservado a Deus! Eu permaneci em Deus. Não mudei minha rotina por conta da aridez espiritual. Se eu deixasse aos poucos os momentos com o Senhor, hoje eu não estaria aqui testemunhando este acontecimento. Nada pode nos separar de Deus, do seu amor, nos recorda São Paulo, e ao mesmo tempo nos questiona: “Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” (Romanos 8,35). Poderíamos acrescentar, o “deserto espiritual?”, nossa resposta precisa ser com a vida, se permanecermos em Deus, Ele permanece em nós e, nos recompensará no tempo devido, basta a paciência.

Santa Teresa foi sábia ao dizer que “tudo passa, só Deus não muda” em sua oração. Toda aquela aridez passou, a adolescência também passou, tantas outras coisas passaram, Deus permaneceu e permanece até hoje em minha vida.

Com essas palavras convido você leitor, a refletir no que é “de Deus” em sua vida; o que você precisa dar a Ele, o que por direito lhe pertence. Sua oração pessoal; a Missa no domingo; o grupo jovem; o grupo de oração; o tempo com sua família? Não sei em qual dessas, ou outras opções você encaixa-se, você  sabe, por isso te recomendo permaneça Nele, custe o que custar, doa o que doer, um dia tudo vai passar e se tornará parte de sua história, e você também verá que Deus será o único a não passar.

Rodrigo Stankevicz
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