Jesus deixou este conselho: “Entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai que está oculto” (Mt 6,6). O Mestre divino ensina a importância de um total recolhimento para que se possa entrar em real contato com Deus. Apenas deste modo, de fato, se torna possível a ação santificadora do Espírito Santo. Este então comunica os cinco sentidos espirituais, análogos aos cinco sentidos materiais. Quem explicou esta verdade magnificamente foi Santo Agostinho: “Que amo eu em Ti, Deus meu, quanto te amo? Uma luz, uma voz, um perfume, um manjar, um abraço: isto não o sinto senão dentro de mim. Minha alma vê resplandecer uma luz que não se acha no espaço; ouve um som que não se mede com o tempo; percebe um perfume que o vento não leva; degusta um manjar que a fome não consome; envolve-se num contato espiritual inefável. Isto é o que amo quando vos amo, Deus meu”. Por esta espécie de sentidos espirituais funcionam dons divinos, quando a alma está concentrada numa prece contemplativa. A vista e o ouvido se referem ao dom do entendimento, pela qual a alma contempla a Deus e as coisas divinas e ouve a sua voz no íntimo do coração; os outros três sentidos espirituais se referem à sabedoria, com que degusta a Deus, sente-se o perfume de suas perfeições e tocamo-lo com uma a espécie de tato que une, abrasa. Tudo isto outra coisa não é senão a presença de Deus ou um amor experimentado que penetra o interior do cristão.
Nunca se deve esquecer que no dia de Pentecostes o Espírito Santo se manifestou em línguas de fogo que é símbolo do amor. Assim como o fogo natural destrói as coisas, o fogo de Deus consome tudo que impede a união com Ele. O fogo transforma os objetos em fogo, assim a alma sob a influência da direção divina se transforma de tíbia em fervorosa, de árida em devota, de humana em divina, de terrena em celestial. Eleva-se e se transforma, se edifica, se acha em comunhão com o seu amado Senhor. Como o fogo purifica os metais quem está unido a Deus se vê purificado de todas as manchas, de todos os defeitos. A comunhão com o Ser Supremo deixa a alma branca e pura como a neve. Quem se entrega a uma oração na qual coloca entre parêntesis o passado e o futuro recebe então as luzes divinas que iluminam a inteligência. Ganha também os dons afetivos que fortalecem a vontade. Tais dons, que são hábitos sobrenaturais, oferecem à alma facilidade que leva à obedecer prontamente às inspirações da graça. Eles dão energias, docilidades e forças que fazem o cristão maleável à ação de Deus e ao mesmo tempo mais ativo para servi-lo na pessoa do próximo. Tornam mais simples a prática das virtudes morais e teologais. São caminho de atalho para chegar a uma maior perfeição no estado de vida no qual vive o batizado. São motores que levam a navegar com velocidade para Deus, comunicando à alma uma maravilhosa sutileza que a dispõe para em tudo procurar agradar ao seu Senhor.
O cristão que segue a diretriz de Jesus de orar ao Pai que está oculto se coloca em condições de viver mais intensamente a sabedoria que faz discernir as verdades e apreciar as coisas espirituais, aperfeiçoando a caridade; o entendimento que leva a penetrar as verdades reveladas e aprimora a fé; a ciência que faz conhecer as coisas com relação a Deus, fim último de tudo e torna mais sedimentada a crença nas verdades reveladas; o conselho que alimenta a prudência no que tange a si próprio e aos outros; a fortaleza que robustece o batizado e facilita para as obras mais difíceis; a piedade que faz tudo referir a Deus e ilumina a virtude da religião; o temor reverencial de Deus que direciona o respeito para com a divina majestade do Todo-poderoso e faz o cristão fugir de tudo que O possa desagradar. Em consequência de tudo isto, o batizado passa a cultivar melhor e a colher sempre os frutos do Espírito Santo de que fala São Paulo na Carta aos Gálatas (Gl 5, 22-23). Reveste-se então de caridade, de alegria, de paz, de paciência, de mansidão, de bondade, de fidelidade, de benignidade, de limpidez interior, de longanimidade, de modéstia, de continência, que é o auto-domínio em todas as circunstâncias. Maravilhas envolvem a alma que sabe de fato se concentrar nas orações. Passa a perceber o que está no salmo: “Gostai e vede quão suave é o Senhor” (Sl 23,9). A oração é, realmente, o vaso sagrado em que se vão buscar as desejadas graças na fonte divina e se degustar no tempo um pouco da ventura da eternidade. Quanto mais profunda, porém, for a humildade, a atenção, o amor e quanto mais larga for a confiança no poder e misericórdia de Deus, tanto mais luzes se alcançará.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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